Aterrorizante, sutil e poética, Mansão Bly divide a opinião do público com sua trama de terror psicológico.
Com o halloween em alta, na sexta-feira, dia 9 de outubro, a mais nova minissérie de Michael Flanagan, A Maldição da Mansão Bly, foi lançada mundialmente na Netflix. A série é uma sequência antagônica de Maldição da Residência Hill, mas apesar de ser considerada uma continuação, vale ressaltar que ela foi lançada individualmente como uma história diferente, tendo um espaço próprio dentro do catálogo da plataforma, sem nenhum envolvimento claro que a categoriza como uma nova temporada de Residência Hill.
Sendo assim, fica claro a necessidade de entender a trama como uma história única e completamente diferente do que foi mostrado na temporada anterior. Mesmo com uma temática distinta, alguns rostos familiares retornam para as telas para assumir o papel de novos personagens.
A trama se passa no ano de 2007, com a atriz Carla Gugino como a narradora. Já dando seu primeiro salto temporal – marca registrada de Flanagan na antiga temporada – viajamos para Londres em 1987, seguindo a história da protagonista Dani (Victoria Pedretti), uma professora americana que está interessada em um trabalho de Au Pair de duas crianças em uma cidade no interior da Inglaterra.

Flora e Dani em Mansão Bly
Após conseguir o emprego, a mocinha viaja até a mansão onde irá se responsabilizar por Flora (Amelie Bea Smith) e Miles Wingrave (Benjamin Evan Ainsworth), dois órfãos que perderam os pais e a antiga babá em um breve período de tempo. Lá, ela também conhece a governanta Hannah (T’Nia Miller), o cozinheiro Owen (Rahul Kohli) e a jardineira Jamie (Amelia Eve). Tudo parece muito estranho e peculiar, e o jeito dos personagens nos faz sentir em uma gigante casa de bonecas, como se tudo e todos estivessem sob controle de uma força maligna superior.
A ideia da casa de bonecas é ressaltada diversas vezes ao longo da trama, realmente nos sugestionando a crer que pessoas, e os próprios fantasmas, da mansão estão sendo manipulados, ou até mesmo possuídos. Apesar de ser uma narrativa muito atraente de se imaginar, alguns furos de roteiro e desenvolvimento deixam a desejar. O conceito das bonecas é perdido e esquecido ao longo da história, fazendo com que o potencial de horror de brincar com os personagens seja jogado de escanteio, criando uma quebra de expectativa.
Outro ponto mal trabalhado na narrativa foi a assombração do ex-noivo de Dani. Ao longo da série descobrimos que Dani se mudou para Londres para fugir do seu passado. A moça estava prestes a casar com o seu melhor amigo de infância, mas acaba terminando o noivado com o rapaz que, extremamente frustrado e fragilizado, é atropelado por um caminhão em sua frente e vem a óbito. Após a morte do ex, Dani é assombrada pelo seu fantasma, que gosta de aparecer em toda a superfície que reflete, deixando a menina com traumas de espelhos, retrovisores e até da própria água.
Entretanto, o eixo da narrativa da Au Pair não agrega em nada a trama, fazendo com que o seu passado seja apenas uma estratégia de prolongar uma história que não chega em lugar nenhum. Por esses motivos, as frustrações dos fãs são compreensíveis se a história for comparada com a sua antecessora, Residência Hill, que trabalhou com um enredo mais aterrorizante e complexo, sem deixar pontas soltas. No entanto, Mansão Bly, mesmo com os erros ao longo do caminho, entrega uma narrativa intrigante e esplêndida.

Hannah Grose, Flora e Miles
Um dos episódios que mais se destacaram na minissérie foi “O Altar dos Mortos”, onde finalmente temos clareza sobre suspeitas levantadas no início da temporada, e o suspense começa a se tornar desesperador. Neste episódio descobrimos a verdadeira história de Hannah, a governanta que foi assassinada pelo espírito de Peter e vaga perdida em loops temporais sem nenhum controle aparente. Mesmo denso, se for analisado com atenção, o episódio entrega cenas extremamente fortes e brutais, nos fazendo sentir na pele o desespero da governanta que precisa lidar com o trauma da sua própria inexistência.
Sendo assim, do episódio 5 em diante, já alcançamos um fluxo de narrativa mais acelerado e bem desenvolvido, que apresenta os fantasmas que os atormentam, e explicam os motivos pelos quais todos estão presos em um ciclo inacabável e insaciável de dor e sofrimento.
A história alcança um potencial gigantesco nos momentos finais de tensão, com o fantasma de Peter e Rebecca tentando assumir os corpos de Flora e Miles, e a Moça do Lago (Daniela Dib) colocando em risco a vida de todos, a trama toma um rumo inesperado em que os fantasmas se tornam aliados dos protagonistas, e, de um modo ou de outro, se unem para alcançar a libertação.
O sacrifício de Dani, em que a moça abdica de sua liberdade e sua própria vida para guardar o espírito maligno da Moça do Lago para salvar Flora, é eletrizante e emocionante, e nos faz ansiar pelo desfecho. Nessa entrega final de altruísmo e redenção, a Au Pair resigna de uma vida normal ao lado de Jamie, ao qual se apaixonou intensamente enquanto trabalhava na casa. As duas, que já viviam um romance, decidem deixar Bly em busca da tranquilidade que foi bruscamente retirada de ambas, e deixam para trás os fantasmas e as vidas perdidas no meio do caminho.

Jamie e Dani na série Mansão Bly
Porém, incapaz de viver uma vida sem o fantasma da Moça do Lago, a história de amor de Jamie e Dani encontra um ponto final inesperado. Após longos anos de uma paixão intensa, Dani se sacrifica novamente no mesmo lago em que um dia ela permitiu ser preenchida pelo espírito maligno e, para não colocar ninguém quem ela amava em risco, a Au Pair se suicidou em um ato heroico.
Com este fim extremamente emocionante e tocante, descobrimos que a narradora na verdade era a Jamie, que contava a história para os convidados do casamento de Flora, que já tinha virado uma adulta sem lembranças dos terríveis acontecimentos que marcaram a sua infância. Ao questionar a jardineira sobre o real propósito do conto, Flora nega que tenha sido uma história de terror, e fala sobre o significado do amor entre Jamie e Dani.
Portanto, se for parar para pensar, a série sempre foi sobre amor. Na primeira temporada tivemos uma fantástica história sobre o amor entre irmãos, sobre a relação de família e como esse sentimento tem o poder de transformar vidas. Nesta segunda temporada, o diretor optou por mostrar até onde o amor romântico pode nos fazer ir. Todas as histórias entrelaçadas tinham um denominador comum: a paixão. No final das contas, Flanagan tentou transmitir o real medo que todos, inconscientemente, temos. A única coisa que pode verdadeiramente nos assombrar são os fantasmas da nossa própria vida, são as lembranças e memórias de quem perdemos, e o medo de um futuro incerto que ainda nem vivemos.
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