No último dia 26, chegou aos cinemas de todo o país a terceira parte da sequência de filmes Minha Mãe é Uma Peça, criação de Paulo Gustavo, um dos humoristas mais famosos do Brasil. Os dois primeiros filmes da franquia, lançados em 2013 e 2016, respectivamente, foram sucessos imediatos de bilheteria (com o segundo filme arrecadando mais de R$100 milhões), o que ajudou a comédia se consolidar como um dos gêneros mais produzidos para as grandes telonas no país.

Minha Mãe é uma Peça 3 mostra a protagonista, Dona Hermínia, tendo a difícil missão de encarar o fato de que seus filhos, Juliano (Rodrigo Pandolfo) e Marcelina (Mariana Xavier), agora são adultos e estão construindo suas próprias famílias. O filme aborda ainda a solidão vivenciada por Dona Hermínia, quando esta têm que se redescobrir como mulher, para além da criação dos seus filhos. Além disso, o ator Paulo Gustavo quebra a ficção ao contar, também, um pouco de sua história pessoal na telona. Com participações especiais do marido e de seus dois filhos no longa.
Contudo, talvez pelo sucesso de seus antecessores, o terceiro filme apresenta roteiro, direção e atuações pouco inovadores. Gustavo se prende no plot dos outros filmes da franquia, com a identificação da todas as mães na figura de Hermínia e deixa a desejar numa história envolvente.
O longa não tem muita estrutura, nem de enredo nem de linha do tempo, com Dona Hermínia vivendo uma jornada do herói confusa e sem sentido. Na primeira metade do filme, vemos a protagonista refletindo sobre a maturidade dos filhos, com um casamento e uma gestação se aproximando. Na segunda metade, ela viaja para os Estados Unidos, vira vizinha do ex-marido, organiza um clube de dança, cuida do chá de fraldas e do nascimento do neto, briga com a sogra do filho, além de lidar com os preparativos da festa de casamento de Juliano. Tudo isso em pouco mais de uma hora do filme.

No entanto, a franquia mantém em seu enredo um dos principais motivos pelos quais se tornou tão famosa: a quebra de tabus. Para além da comédia, vemos na protagonista uma figura feminina forte, emancipando-se de valores patriarcais enraizados na nossa sociedade e se reencontrando em uma nova mulher. Gustavo ainda aborda a homofobia, ao mostrar, em um flashback, Juliano sendo discriminado ao se vestir de Emília numa festa de crianças do Sítio do Picapau Amarelo.
Mas paralelamente, ao longo das cenas, ainda é possível ver piadas batidas com relação à velhice, maternidade e um casamento homossexual sem muita inspiração, com poucas cenas que desmistificam a união entre pessoas do mesmo sexo. Faltou ao terceiro filme o que Gustavo fez e muito bem nos dois primeiros.
O fato é que Minha Mãe é uma Peça 3 tem seus momentos de luz e exaltação, mas não passa de um filme receita de bolo assim como várias outras comédias brasileiras, principalmente aquelas nas quais Paulo Gustavo está, de alguma maneira, envolvido na produção. A abordagem vanguardista em alguns temas como homossexualidade e machismo é tão sutil que se torna contraditória. E a construção falha de enredo e personagens faz com que a experiência cinematográfica se torne decepcionante.